ESTUDO DE TRATABILIDADE E SUA IMPORTÂNCIA EM EFLUENTES INDUSTRIAIS

O “estudo de jar-test” ou “ensaio de tratabilidade” é uma técnica fundamental na avaliação e otimização de processos de coagulação e floculação no tratamento de água e de efluentes industriais.
O objetivo deste estudo é observar e verificar qual será o melhor método e dosagem do(s) produto(s) químico(s) a ser(em) utilizado(s) para remoção dos possíveis contaminantes. Além disso, o estudo de tratabilidade visa identificar as eficiências de cada coagulante nas remoções dos diversos poluentes que constituem o efluente bruto.
Este estudo é de fundamental importância para propor um projeto adequado e confiável para o cliente.

Figura 1 – Ensaio de jar-test em um efluente industrial.

Com o resultado do estudo de tratabilidade, poderá ser elaborado um estudo de balanço de massa a fim de estimar e quantificar as cargas e concentrações de poluentes que sairão no efluente tratado, além de ser possível de estimar, com maior confiabilidade, o consumo de químicos e a geração de lodo.
A importância desse estudo pode ser resumida nos seguintes pontos:
  • Otimização do tratamento: O estudo de tratabilidade/Jar-test permite determinar as dosagens ideais de coagulantes e floculantes, maximizando a eficiência na remoção de sólidos suspensos, matéria orgânica e outros poluentes presentes nos efluentes.
  • Economia de produtos químicos: Ao identificar a quantidade exata de produtos químicos necessários para o tratamento, o jar-test ajuda a evitar desperdícios e a reduzir os custos operacionais.
  • Avaliação de diferentes produtos: O jar-test possibilita a comparação de diferentes tipos e marcas de coagulantes e floculantes, permitindo a escolha dos produtos mais eficazes e econômicos para o tratamento específico dos efluentes.
  • Ajustes em tempo real: Com o jar-test, é possível realizar ajustes rápidos e precisos no processo de tratamento em resposta a variações na composição dos efluentes, garantindo uma operação contínua e eficiente.
  • Compreensão do processo: O estudo fornece uma compreensão detalhada dos mecanismos de coagulação e floculação, auxiliando na identificação de problemas e na implementação de melhorias no sistema de tratamento.
  • Conformidade com Normas: Através da otimização dos processos de tratamento, o jar-test contribui para que os efluentes tratados atendam aos padrões regulatórios, evitando penalidades e impactos ambientais negativos.
Portanto, o estudo de tratabilidade é essencial para garantir a eficácia, a eficiência econômica e a conformidade regulatória do tratamento de efluentes industriais, além de proporcionar flexibilidade e conhecimento aprofundado sobre o processo de coagulação e floculação.
É importante salientar que estudos de tratabilidade para sistemas biológicos requerem alguns meses para formação do lodo e, por este motivo, é de dificil realização em indústrias que queiram tratar o seu efluente doméstico que apresentam elevados teores de matéria orgânica. Neste caso, como os efluentes domésticos apresentam semelhanças em suas composições (ausência de metais e com presenças de matéria orgânica e macronutrientes) em qualquer localidade, e os processos de tratamento biológicos são conhecidos e difundidos mundialmente, e, portanto, os projetos/melhorias de uma “ETE Doméstica ou Sanitária” utiliza os conhecimentos adquiridos ao longo do tempo e da expertise da empresa prestadora de serviço.
Se você está precisando de ajuda e precisa melhorar o tratamento de efluente da sua indústria, a H2O Engenharia pode te ajudar com técnicas de jar-test e nossa expertise. Faça uma consulta agora mesmo e se livre dos problemas de não conformidade da sua ETE.

VOCÊ SABE O QUE SÃO POA’S E SUAS PRINCIPAIS APLICAÇÕES?

A sigla “POA’s” significa “Processos Oxidativos Avançados”. Os POA’s são sistemas baseados na reação entre oxidantes potentes ou entre oxidantes e catalisadores metálicos, em alguns sob a ação da irradiação, que são dissociados para gerar radicais livres hidroxila (●OH), substâncias altamente oxidantes, instáveis e não seletivas, que MINERALIZARAM A MATÉRIA ORGÂNICA PRESENTE NO ESGOTO A DIÓXIDO DE CARBONO, ÁGUA E ÍONS INORGÂNICOS. 

Além da remoção de parte da matéria orgânica, os POA’s podem remover compostos como fenóis, clorofenois, álcoois, corantes, aromáticos, entre outros, sendo uma excelente alternativa para a remoção de várias classes de compostos. As eficiências de remoções destes compostos são difíceis em sistemas biológicos.

Embora seja conhecida na área de saneamento ambiental (remediação de solo e tratamento de água), o uso e a difusão deste tipo de tecnologia ainda é pequena no Brasil. Empresas têm se esforçado nos últimos anos, junto as universidades, para difundi-la no tratamento de água e efluentes.

A ilustração mostra os diversos tipos de POA’s empregados no sistema de tratamento de efluentes e água.

Para saber mais sobre o assunto  e como podemos ajuda-lo, visite nosso site: www.h2oengenharia.com.br

Figura 1 – Principais sistemas POA’s.

APROVEITAMENTO E DESTINAÇÃO DO LODO

Considerado como uns dos principais vilões em estações de tratamento de água e esgoto, a destinação do lodo envolve estudos e decisões relativos ao grau de desidratação, condicionamento e estabilização, formas de transporte, impactos ambientais e aspectos econômicos.

De forma geral, o lodo pode ser encaminhado para aterros sanitário, incinerador, agricultura, construção civil e reuso em indústria (como matéria prima).

Figura 5 – Possibilidades de disposição final do lodo.

Saiba os principais destinos de um lodo gerado

O encaminhamento do lodo produzido em uma ETA ou ETE para qualquer uma destas possibilidades de recebimento deve preceder de estudos de viabilidade econômica (custo de armazenamento e transporte) e técnica (caracterização físico-química).

O processamento e a disposição do lodo podem representar cerca de 40,0 a 60,0% do custo operacional de uma ETE. Estes custos envolvem, basicamente, o transporte e a disposição do lodo em locais devidamente credenciados (que estejam de acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos) para recepção.

FONTES DE GERAÇÃO DE LODO

Basicamente as fontes de geração de lodo em estações de tratamento de esgotos e águas são as unidades de operações primárias, as secundárias (processos físico-químicos em ETA’s e biológicos em ETE’s) e os processos de tratamento do lodo. Desta forma, temos:

  1. Lodo bruto ou primário: Constituído por sólidos sedimentáveis gerado nas caixas de areia e/ou no decantador primário. O lodo primário pode exalar mau cheiro devido a decomposição anaeróbia, principalmente, se ficar retido por muito tempo nas unidades de tratamento. Normalmente, este tipo de lodo apresenta coloração acinzentada, é pegajoso, facilmente fermentável e de fácil digestão sob condições adequadas de operações da estação de tratamento de esgoto;
  2. Lodo biológico ou secundário: Este tipo de lodo é exclusivo de estações de tratamento de esgotos e compreende a biomassa gerada através da remoção da matéria orgânica presente no esgoto afluente. O lodo é gerado em reatores biológicos, com aparência floculenta, coloração de marrom a preta, odor pouco ofensivo e pode ser digerido sozinho ou misturado ao lodo primário. Vale ressaltar que estes sólidos não se encontram estabilizados (digeridos) necessitando de uma etapa posterior, de digestão.
  3. Lodo digerido: Lodo que sofreu o processo de estabilização biológica aeróbia ou anaeróbia. Geralmente, não possuem odor desagradável e é marrom escuro. Neste tipo de processo, é possível reduzir o volume de lodo e obter gás metano (digestão anaeróbia) para produção de energia, por exemplo.
  4. Lodo químico: o lodo químico pode ser gerado tanto em uma ETA como em uma ETA. Trata-se de um tipo de lodo proveniente de etapas físico-químicas para melhorar o desempenho dos decantadores primários em estações de tratamento de esgoto, usualmente é resultado da precipitação química com sais metálicos ou com cal. Já em estações de tratamento de água, o lodo é proveniente das etapas de coagulação e floculação, também de etapas físico-químicas. O lodo de ETA é constituído prioritariamente por frações inorgânicas – compostas por argila, silte, areia fina – mas também pode apresentar material húmico e microrganismos, além de produtos químicos provenientes do processo de coagulação. Geralmente, é um resíduo pertencente à Classe II A – não perigoso e não inerte (ABNT, 2004). Deste modo, é permitido sua disposição em aterros sanitários.

LEGISLAÇÃO

No Brasil, a Norma Brasileira (NBR) nº 1.0004 de 2004 trata sobre a classificação dos resíduos sólidos, no qual classifica os tipos de resíduos em quatro Classes (I, II, IIA e IIB). Nesta NBR, é possível verificar a classificação do lodo em função da fonte poluidora.

A Resolução do Conselho do Meio Ambiente, CONAMA, 375/2006, que define critérios e procedimentos para o uso agrícola de lodos de esgoto gerados em estações de tratamento de esgoto e seus produtos gerados. Essa resolução define as regras para o uso de lodo na agricultura por meio das Instruções Normativas e das Resoluções n° 375/2006 e 380/2006.

Em São Paulo, a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) exige o acondicionamento e armazenamento adequados dos materiais de acordo com as normas da ABNT 13.221, que aborda o transporte terrestre de resíduos  e expede licença, por documento de autorização, o Certificado de Movimentação de Resíduos de Interesse Ambiental (CADRI).

DISPOSIÇÃO EM ATERROS SANITÁRIOS

Os aterros sanitários que recebem estes tipos de lodos devem estar de acordo com as especificações estabelecidas pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) de 2010. Nos aterros, o lodo é acondicionado no solo em função das suas características físico-químicas.

Além da PNRS, como já citado, a Norma Brasileira de nº 10.004 de 2004 classifica os resíduos sólidos quanto aos seus riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública, para que possam ser gerenciados adequadamente. Os resíduos são classificados em:

  • Classe I – Perigosos;
  • Classe II – Não perigosos;
  • Classe II A – Não inertes; e
  • Classe II B – Inertes.

Para saber em qual classe o lodo gerado está enquadrado, a equipe de operação da ETE e/ou ETA em questão deve realizar, obrigatoriamente, análises físico-químicas.

INCINERAÇÃO

Já a opção de encaminhamento do lodo para incineração é uma alternativa muito viável tecnicamente, pois não exige tratamento prévio biológico ou químico, e provoca uma grande redução do volume (cerca de 95,0%). Entretanto, apresenta alto custo, geração de gases poluentes, além da necessidade de gerenciamento das cinzas formadas após o processo (ANDREOLI; VON SPERLING, 2001). Neste processo, o lodo biológico é queimando a 1.200°C e não é necessário um combustível para o processo, já que o próprio lodo é usado como combustível devido a presença de matéria orgânica em abundância.

Figura 1 – Representação de uma planta de incineração de resíduos.

DIGESTORES

Outra opção extremamente viável é o condicionamento do lodo em digestores aeróbios e/ou anaeróbios. Neste tipo de processo (digestão), o lodo sofre uma redução no seu volume inicial, gerando subprodutos (biogás em caso de digestão anaeróbia) que podem ser reaproveitados na própria ETE (geração de energia a partir do biogás). Como consequência da redução do volume de lodo, o custo com o transporte para os aterros sanitários ou incineradores diminuem, também.

Figura 2 – Representação de um digestor anaeróbio de um estágio.

  • Digestão anaeróbia: processo biológico que ocorre sem a presença de oxigênio, alterando as reações químicas do processo; consequentemente, os subprodutos são outros, incluindo biogás que pode inclusive, ser usado para geração de energia em usinas termoelétricas; e
  • Digestão aeróbia: normalmente indicado para instalações menores, este processo envolve a digestão do lodo por microrganismos, porém, com oxigênio presente no ambiente, o que faz com que ocorra a estabilização da carga orgânica do lodo.

APLICAÇÃO NA AGRICULTURA

O Lodo proveniente de ETA e ETE pode se tornar matéria-prima de um substrato para plantas e de um condicionador de solo, mediante a garantia que não ocorram impactos ambientais negativos.

Diversas pesquisas realizadas ultimamente vem mostrando que é possível utilizar lodo para recuperação de solos erodidos e empobrecidos. Uma das práticas para conservação e recuperação dos solos incentivada é o uso de lodo de esgotos domésticos em solos agrícolas. Isto porque, o lodo proveniente de esgotos domésticos são constituídos de substâncias benéficas para o solo, como nitrogênio e o fosforo, por exemplo.

Diversos estudos no Brasil comprovaram a eficácia do uso agrícola de lodo de esgoto, entretanto, a possível presença de poluentes como metais pesados, patógenos e compostos orgânicos persistentes são fatores que podem provocar impactos ambientais negativos.

Figura 3 – Exemplos de aplicações de lodos provenientes de ETE’s na agricultura.

Uma vez adicionados ao solo, alguns dos poluentes podem entrar na cadeia alimentar ou acumular-se no próprio solo, no ar, nas águas superficiais, nos sedimentos e nas águas subterrâneas. Portanto, é necessária uma rigorosa caracterização para a adição do lodo ao solo.

Já o lodo proveniente das etapas de floculação e decantação das ETA’s apresentam grandes quantidades de lodo misturado ao agente floculante, podendo também conter nutrientes, o que lhe dá potencial para uso agrícola. A argila com matéria orgânica pode, também, melhorar a capacidade de retenção de água em certos tipos de solos, especialmente os arenosos, e também levar alguns macronutrientes como cálcio, magnésio e potássio. Essas características tornam os lodos interessantes para a agricultura em determinados tipos de solo.

APLICAÇÃO NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Durante os últimos anos, diversos estudos e aplicações foram feitos em relação ao uso de lodo de ETE’s e ETA’s na construção civil. Diversos especialistas da área estão buscando soluções que sejam economicamente viável e ambientalmente vantajosa para o destino dos lodos na construção civil. Dentre as diversas possibilidades de uso, atualmente, destacam-se a fabricação de tijolos e cimento.

Um exemplo é a utilização do lodo de ETA em indústrias de cerâmica, pois geralmente, o lodo apresenta algumas características físicas e mineralógicas compatíveis com as matérias-primas utilizadas neste tipo de indústria.

Figura 4 – Exemplos de aplicação de lodo de ETE e ETA na construção civil.

No entanto, antes ser utilizado na construção civil, o lodo proveniente de ETA ou ETE deve passar, obrigatoriamente, por análises físico-químicas, a fim de verificar se há presença de metais pesados e/ou qualquer composto prejudicial à saúde, uma vez que a população passaria a ter contato com o material.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por fim, é importante ressaltar que antes de qualquer decisão, o responsável pelo envio deve, obrigatoriamente, calcular a quantidade de lodo gerado por dia (Kg/dia) e realizar um estudo caracterização (física, química e biológica) do lodo, cujo objetivo é detectar a presença de contaminantes (metais pesados) prejudiciais à saúde, provenientes de esgotos industriais.

Caso seja detectada a presença de metais pesados, por exemplo, o lodo deve ser encaminhado para locais onde não haja contato direto com seres humanos.

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Até o próximo artigo!

Equipe H2O Engenharia.

SISTEMA WETLAND

O sistema wetland tem se apresentado como uma ótima alternativa ao tratamento biológico de esgotos. Trata-se de um processo complementar do efluente do tanque séptico (necessário para a quebra de moléculas complexas em moléculas mais simples de fácil absorção pelas raízes das plantas) que são capazes de utilizar a filtração física, química e biológica, na transformação/depuração de poluentes presentes nos esgotos sanitários. Este tipo de sistema possui baixo custo de operação, implantação e manutenção em relação aos sistemas convencionais.

Além disso, este tipo de sistema possui a vantagem de lidar com variações sazonais na emissão de efluentes sem apresentar efeitos adversos ao funcionamento do sistema de tratamento.

Os usos de wetlands demonstram boas eficiências na remoção de sólidos suspensos, DBO e, quando bem operados, na concentração de nutrientes (Fósforo e Nitrogênio). Dentro de um sistema wetland ocorrem diversos processos que contribuem para a melhoria da qualidade do efluente, são eles: adsorção de íons amônio e de metais pelos argilominerais, adsorção de íons metálicos, de pesticidas e de compostos a base de fósforo pela matéria orgânica; decomposição da matéria orgânica; decomposição da matéria orgânica biodegradável, tanto aeróbia como anaerobiamente; remoção de patógenos por microrganismos; retiradas de metais pesados e outras substâncias tóxicas (dentro de limites) pelas plantas (macrófitas).

 

A remoção da matéria orgânica e dos nutrientes dentro de um filtro wetland se deve ao uso de macrófitas aquáticas (Figura 1). Estas espécies são utilizadas porque possuem adaptações a diversos tipos de ambientes, desde brejos até ambientes totalmente submersos. Em wetlands construídas, as macrófitas podem ser do tipo emersa; com folhas flutuantes; submersas enraizadas; submersas livres; e aquáticas flutuantes.

Figura 1 – Tipos de macrófitas que podem ser utilizadas em wetlands construídas.

Critérios de dimensionamento

As wetlands são projetadas a partir da escolha do tipo de fluxo hidráulico (superficial ou subsuperficial), Tempo de Detenção hidráulica (TDH), material filtrante e da espécie de macrófitas.

 

As wetlands construídas com fluxo superficial (Figura 2) apresentam áreas que simulam lagoas do tipo pântano, com vegetação variada. Neste tipo de fluxo, a lâmina de água pode variar de 10,0 a 40,0 cm, dependendo do projeto, mantida sobre a superfície do solo. O tratamento do efluente ocorre através da ação de microrganismos que ficam fixados na superfície do solo e nas raízes das plantas.

Figura 2 – Exemplo de um sistema wetland de fluxo superficial.

Já as wetlands construídas de fluxo subsuperficial, se caracterizam por possuir um meio filtrante junto com a vegetação aquática, onde o efluente atravessa o meio filtrante horizontalmente ou verticalmente (seta preta). Durantes este percurso, o esgoto entra em contato com zonas aeróbias, anóxicas e anaeróbias. As zonas aeróbias ocorrem perto das raízes e rizomas (Figura 3). Durante a passagem do esgoto pela rizosfera (região onde o solo e as raízes das plantas entram em contato), ocorre a degradação do mesmo pela ação dos microrganismos e pelos processos físicos e químicos. Nestes sistemas, o princípio básico de tratamento é a formação do biofilme aderido no meio suporte e nas raízes das plantas, onde os compostos orgânicos são degradados em condições aeróbias e anaeróbias. O fornecimento de oxigênio nos sistemas wetland se dão de duas formas: por meio da transferência de oxigênio entre as raízes e rizomas das plantas e a rizosfera; e através da difusão do oxigênio entre a atmosfera e a rizosfera.  

Figura 3 – Representação esquemática da formação de biofilme.

Nas wetlands subsuperficiais, o meio filtrante pode ser composto por areia, pedra e/ou brita que, junto com as raízes da vegetação (macrófitas), atuam no tratamento do efluente.

 

A figura 4 demonstra um exemplo do processo de wetland utilizando fluxo subsuperficial aplicado no tratamento de esgotos sanitários.

Figura 4 – Exemplo do processo de wetland utilizando fluxo subsuperficial horizontal e vertical

Dentre as mais diversas variações, os modelos mais comuns de wetlands de fluxo subsuperficial possuem tubulações de entrada distribuídas por toda superfície, de onde é lançado o efluente de forma intermitente. O efluente atravessa (seta vermelha) o meio filtrante até ser coletado pela parte da tubulação inferior do sistema.

Um fator importante para a boa eficiência da wetland é a correta escolha e utilização do meio suporte. Este serve como substrato ao cultivo da vegetação, favorecendo as transformações químicas e bioquímicas, além de reter os poluentes removidos. Para se projetar uma wetland é importante conhecer a porosidade e condutividade hidráulica do meio filtrante escolhido, uma vez que o estudo hidráulico é baseado nesta escolha.

Quanto ao tipo de vegetação (macrófitas) cultivada nas wetlands, o desempenho no tratamento é maior na presença de plantas. As plantas utilizadas no sistema de wetlands servem de superfície para o crescimento de microrganismos e adesão do biofilme, atuando na retirada de nutrientes do efluente. A seleção da vegetação a ser cultivada está relacionada com a profundidade da zona de raízes e a altura da planta, assim como com o tipo de sistema escolhido, fluxo superficial ou subsuperficial. As macrófitas emergentes, utilizadas em sistemas de fluxo subsuperficial, são fixas no substrato da wetland e adaptadas a profundidades de 0,5 a 1,5 m.

É importante ressaltar que a remoção de nitrogênio e fósforo não está relacionada, estritamente, com a absorção das raízes das plantas por estes nutrientes. No geral, as plantas consomem em torno de 2,0 a 5,0% da carga de nutrientes que adentra o sistema Wetland.

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Até o próximo artigo!

Luiz Fernando Iervolino – H2O Engenharia

PRESENÇA DE COR EM ÁGUAS NATURAIS

CONCEITO DE COR

A cor da água é produzida pela reflexão da luz em partículas minúsculas de dimensões inferiores a 1µm – denominadas coloides – finamente dispersas, de origem orgânica (ácidos húmicos e fúlvidos) ou mineral (resíduos industriais, compostos de ferro e manganês). Corpos d’água naturalmente escuros são encontrados em regiões ricas em vegetação, em decorrência da maior produção de ácidos húmicos. Um exemplo internacionalmente conhecido é o Rio Negro, afluente do rio Amazonas, cujo nome faz referência à sua cor escura, causada pela presença de produtos de  decomposição da vegetação e pigmentos de origem bacteriana.

Existem 2 formas de cor: a Cor Real que é medida em água filtrada (ou centrifugada) e a cor aparente que é realizada na água sem filtrar ou centrifugar e que, por esta razão, contém materiais particulados que interferem na medida de reflexão..

A cor da água pode ser um indicativo do grau de poluição. De modo geral, águas de cor 

elevada apresentam concentrações mais altas de DBO e DQO e de Sólidos Dissolvidos.

PRESENÇA DE COR EM ÁGUAS 

Em função do aumento populacional das grandes cidades e de suas consequentes atividades sobre o meio ambiente, aliado a falta de planejamento urbano, a qualidade e quantidade de água disponível para o consumo proveniente dos corpos hídricos (rios, reservatórios e lagos, etc.) estão com sua qualidade natural cada vez mais deteriorada e disponível em menor quantidade. Como consequência, o processo de tratamento de água se torna mais complexo, exigindo tecnologias de ponta.

Infelizmente, mais do que os rios e a água subterrânea, muitos lagos estão tornando-se sujeitos a uma intensa poluição, perdendo sua “transparência”. Os poluentes mais ofensivos a um lago são os lançamentos excessivos de nitrogênio e fósforo, que são utilizados como nutrientes pelas algas. Diversas formas de vida alimentam-se de algas e, à medida que aumenta a atividade biológica, diminui o oxigênio disponível na água, a um ponto em que nenhuma forma de vida sobreviva a não ser as algas, originando o que conhecemos como eutrofização. Este processo resulta em uma coloração esverdeada na água (Figura 1).

Figura 1 – Proliferação de algas em função da poluição da água do Rio Tietê, em Sabino (SP).

Fonte: TV TEM.

Um dos parâmetros que podem indicar o grau de poluição de um corpo hídrico é sua cor. De modo geral, águas de cor elevada apresentam uma alta demanda química ou bioquímica de oxigênio.

Geralmente, os processos empregados nas Estações de Tratamento de Água (ETA) visam remover os poluentes  (inorgânicos e orgânicos) através dos processos convencionais. Entretanto, águas com cor elevada e baixa turbidez podem inviabilizar ou encarecer os processos de tratamento, principalmente, na etapa de coagulação-floculação, e por este motivo, a cor da água deve ser sempre monitorada.

REMOÇÃO DE COR NAS ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUA

Geralmente, a cor pode ser removida da água pelos processos de coagulação e filtração, além de em alguns casos, serem removidas por adsorção e por oxidação química. No primeiro caso é utilizado carvão ativado (em pó ou granulado) e na última, a oxidação é obtida através do emprego de compostos como o dióxido de cloro (ClO2), ozônio (O3) e permanganato de potássio (KMnO4).

Na etapa de coagulação (mistura rápida), a água bruta entra em contato com o coagulante (geralmente sulfato de alumínio ou PAC) para que os coloides (caracterizados principalmente, por cor e turbidez) sofram alterações/desestabilizações físico-químicas, produzindo partículas (flocos) que possam ser removidas, posteriormente, por sedimentação. 

Figura 2 – Exemplo (ensaio de jartest) do processo de coagulação, floculação e decantação para remoção de partículas coloidais da água.

Um problema muito importante e que ocorre em águas com alta cor e baixa turbidez é a necessidade de se  reciclar o lodo do decantador para a etapa de coagulação com o objetivo de auxiliar a floculação, pois os flocos em águas deste tipo tendem a ser minúsculos e decantando apenas em velocidades muito baixas. Este é um recurso técnico muitas vezes necessário.

Outra consideração operacional é o uso de carvão ativado com alta superfície específica que também pode auxiliar na remoção de cor.

MÉTODOS E EQUIPAMENTOS DE ANÁLISE

A unidade de cor pode ser definida como a cor produzida por 1,0 mg de platina (como cloroplatinado de potássio, K2PtCl6) e 0,5 mg de cloreto de cobalto (CoCl2) dissolvidos em 1 Litro de água. A unidade de cor é expressa, assim, em mg/L de Pt-Co ou graus Hazen (ºH). essas substâncias produzem uma cor marrom-amarelada semelhante à cor natural da água. 

Embora os métodos antigos de medição de cor com discos comparativos ainda sejam utilizados em estações de tratamento de água mais antigas, recentemente, a cor tem sido medida com o uso de espectrofotômetros, o que aumenta a confiabilidade analítica.

Figura 5 – Equipamento (Colorímetro) para medição de cor na água.

Neste tipo de análise, o aparelho realiza medições em leitura digital de forma rápida e eficiente através do método Platina-Cobalto, que é considerado o método padrão para a medição da cor em água potável e águas naturais.

O aparelho realiza análises de cor verdadeira e aparente, geralmente, na faixa de 0 a 500 Pt-Co (mg/L de Pt-Co) e apresenta os resultados em leitura digital garantindo maior confiabilidade nas análises, diminuindo incertezas e aumentando a eficiência das suas medições.

LEGISLAÇÃO

De acordo com a Portaria de Consolidação nº 888/2021 do Ministério de Saúde, que dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade, define que o valor da cor ao final do processo de tratamento na ETA e distribuída para população deve ser inferior a 15,0 uH.

Recomenda-se que ao final do processo de tratamento, a cor seja mantida abaixo do valor de 5,0 uH. Isto porque, a água tratada poderá adquirir cor no percurso da rede de abastecimento de água para população, após receber o cloro e o flúor.

SEDIMENTAÇÃO — CONCEITOS E EXEMPLOS

A sedimentação é um processo físico de uma ETA ou ETE onde se separam as partículas sólidas em suspensão da água, através da ação da gravidade e da diferença de densidade entre a água e a partícula sólida. A separação propicia a clarificação do meio líquido de menor massa específica e o espessamento do lodo depositado no fundo do sedimentador. 

Normalmente, as águas contêm materiais no estado coloidal ou em solução, que não podem ser removidos por sedimentação simples, sendo necessário a adição de coagulante para formar flocos mais densos e que sedimentem com maior facilidade. 

Há quatro tipos de sedimentação:

  1. Discreta;
  2. Floculante;
  3. Interferida; e
  4. Compressão.

Em ETA e ETE estes fenômenos ocorrem em maior ou menor escala numa ou noutra zona dependendo das condições de floculação, que em ETA é um processo físico-químico e em ETE é um processo biológico com concentrações de sólidos em suspensão diferentes em cada caso e que devem ser consideradas para que se obtenha os melhores resultados em clarificação e em espessamento.

De acordo com Hazen e Camp (1953), um tanque (decantador) ideal para sedimentação das partículas em suspensão possui as seguintes premissas e zonas:

  • O escoamento deve ser contínuo e não turbulento;
  • Não há ressuspensão das partículas depositadas no fundo do tanque;
  • Zona de entrada – tem a finalidade de distribuir, por igual, a suspensão sobre a secção transversal, de modo que o fluxo na zona de sedimentação seja o mais laminar possível;
  • Zona de sedimentação – as partículas percorrem esta zona com uma certa velocidade de sedimentação, depositando-se no fundo do tanque. Admite-se que nesta zona, que o fluxo de água é permanente e uniforme ;
  • Zona de compressão ou de lodo – volume de acúmulo de sólidos abaixo da zona de sedimentação. Nesta zona é onde se processa o espessamento e o acúmulo de lodo deve ser retirado periodicamente, seja de forma manual ou mecânica; e
  • Zona de saída – o efluente clarificado deve ser coletado de forma tranquila e adequada para evitar a formação de turbulências que afetariam as etapas citadas anteriormente.

Figura 1 – Zonas observadas em um decantador convencional.

Fonte: H2O Engenharia; 2022.

Os decantadores lamelares (Figura 2) são um aperfeiçoamento dos decantadores convencionais e, como o próprio nome indica, proporcionam condições hidráulicas de escoamento mais favoráveis do que os decantadores de fluxo horizontal. Além disso, os decantadores lamelares operam com alta taxa superficial, possibilitando utilizar um sistema de decantação para a mesma vazão de um convencional com uma menor área.

Nestes decantadores, o fluxo da água é ascendente e à medida que o fluido passa pelas lamelas, as partículas de maior densidade “escorregam” pelas lamelas em sentido oposto ao da água e acabam se depositando no fundo do decantador. 

Usualmente, os módulos tubulares são instalados com uma inclinação entre 50 e 60º, para que o lodo escoe continuamente, sem a necessidade de paradas para limpezas. Ângulos maiores que 60º resultam em menores eficiências, enquanto os ângulos menores que 50º, o lodo não escoa facilmente para o fundo do decantador.

Figura 2 – Exemplo de Decantador tubular vazio (esquerda) e com água (direita).

Os módulos lamelares podem ser tubulares ou de placas em plástico, madeira ou em lona (placas com canais ou placas inclinadas igualmente espaçados, como apresenta a Figura 3, a seguir.

Figura 3 – Exemplo de um módulo tubular que é instalado no decantador.

O dimensionamento de um decantador tubular leva em consideração os mesmos parâmetros e cálculos para um sistema convencional. Ou seja, o dimensionamento se baseia na taxa de escoamento superficial (velocidade de sedimentação = VCS).

Os decantadores tubulares tem larga aplicação em estações de tratamento de água, mas são menos utilizados em ETEs devido à alta concentração de sólidos com que estes sistemas operam.

Em uma ETA, a distribuição de água deve levar em consideração o processo de floculação que a antecede de maneira a impedir a quebra dos flocos nas zonas de transição.

Um exemplo de distribuição de água adequada é feito pela cortina difusora, de forma transversal ao decantador, por meio de tabuas de madeira, paredes de alvenaria ou de concreto de orifícios (Figura 4, a seguir).

Figura 4 – Exemplo de instalação de uma cortina difusora utilizando tabuas de madeira em uma ETA.

Fonte: H2O Engenharia; ETA Vitória Régia – Sorocaba – SP; 2021.

A NBR 12.216/92 preconiza algumas condições para o escoamento através das cortinas de distribuição e no caso de uma estação de tratamento de água deve-se respeitar as seguintes condições de escoamento:

  • Gradiente de velocidade médio decorrente dos jatos dos orifícios: ≤ 25,0 s-1; e
  • Velocidade média de escoamento nos orifícios: 0,10 a 0,30 m/s.

Figura 5 – Esquema de cortina de distribuição de água floculada em decantador convencional.

Fonte: Tecnologias e Técnicas de Tratamento de Água; 2012.

No caso de decantadores circulares (convencionais em ETEs), o escoamento da água no anel difusor de entrada deverá ter uma baixa velocidade, assim como a taxa sobre o vertedor, para evitar arraste de flocos.

A remoção de lodo pode ser feita de forma contínua, semicontínua ou periódica, com a necessidade de efetuar o tratamento dos resíduos gerados nas ETAs e ETEs.

Figura 6 – Esquema de um decantador circular típicos de uma ETE.

Fonte: Sperling et al, s.d. 

A remoção de lodo pode ser feita de forma manual ou mecânica (Figura 7), dependendo da tecnologia empregada. Atualmente, com a possibilidade da operação remota (automação) nas estações de tratamento de água e efluente, os decantadores constituídos de removedores mecânicos estão sendo escolhidos em detrimento dos manuais, pois, há uma facilidade operacional.

Figura 7 – Exemplos de removedores mecânicos instalado em uma ETE (esquerda) em uma ETA (direita).

Fonte: Catálogos de fornecedores.

Por fim, é importante reforçar que o a escolha e o dimensionamento de um decantador de ETA e/ou ETE devem seguir os conceitos físicos de separação de misturas heterogêneas do tipo líquido-sólido. O projetista deve ficar atento na taxa de aplicação superficial, taxa sobre o vertedouro e condições ideias de escoamento (laminar) dentro do decantador, além da área disponível para sua construção e instalação, de forma que as dimensões do decantador não apresente curtos-circuitos e flotação do lodo.

LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO

As lagoas de estabilização são sistemas de tratamento biológico em que a estabilização da matéria orgânica é realizada pela oxidação bacteriológica (oxidação aeróbia ou fermentação anaeróbia) e/ou redução fotossintética das algas.

Em geral, as lagoas apresentam excelentes eficiências de tratamentos. Em termos de eficiência de remoção de DBO, a faixa típica situa-se entre 75 e 85%. Com relação a remoção de coliformes, pode-se alcançar até 99,9% de eficiência.

As eficiências das lagoas são influenciadas, em grande parte, pelo clima. Locais com clima predominante quente (exemplo o Brasil) apresentam eficiências de remoções maiores do que locais frios, pois, a temperatura apresenta um relacionamento com outros fatores que interferem no processo biológico, como a radiação solar, a velocidade da fotossíntese e a velocidade do metabolismo dos organismos.

Além disso, é importante destacar o papel das algas em lagoas facultativas e aeróbias. Nestes dois tipos de sistemas, as algas são responsáveis pelo fornecimento de grande parte do oxigênio dissolvido na lagoa que serão utilizados pelos microrganismos para sintetizarem a matéria orgânica.

CLASSIFICAÇÃO DAS LAGOAS

As lagoas podem ser classificadas em: anaeróbias; facultativas (ocorrem processos aeróbios e anaeróbios); aeróbias; e maturação.

Nos tópicos a seguir, vou resumir, brevemente, cada uma destas classificações.

Lagoa anaeróbia

Inicialmente, é apresentado um resumo do sistema de lagoa anaeróbia. Este tipo de lagoa se caracteriza por não apresentar oxigênio dissolvido abaixo da superfície da água.

Durante o processo anaeróbio, diversas bactérias se desenvolvem para transformar a poluição orgânica em metano. Basicamente ocorrem duas etapas:

  • liquefação e formação de ácidos através das bactérias acidogênicas; e
  • formação de metano através das bactérias metanogênicas.

Na primeira etapa, há a conversão da matéria orgânica complexa em formas mais simples. Nesta etapa não há conversão de DBO em metano.

Já na segunda etapa, a DBO passa a ser removida, com a matéria orgânica (ácidos produzidos na primeira etapa) sendo convertida a metano, gás carbônico e água. O carbono orgânico é removido do meio liquido das lagoas pelo fato do metano escapar para a atmosfera.

Em lagoas anaeróbias, é de extrema importância o controle de três fatores:

  • Ausência de oxigênio dissolvido – as bactérias metanogênicas são anaeróbias estritas, não sobrevivendo na presença de oxigênio;
  • Temperatura – acima de 15°C; e
  • pHentre 7,0 e 9,0.

As alterações destes parâmetros fora dos valores e das faixas ideais, influenciam diretamente na redução de eficiência de remoção de matéria orgânica.

Lagoa facultativa

Já a lagoa facultativa é, provavelmente, a mais simples em termos de operação. O seu processo ocorre através da retenção dos esgotos por um período de tempo suficiente para que os processos de estabilização da matéria orgânica se desenvolvam.

As lagoas anaeróbias apresentam reações lentas, e por isto, necessitam de um tempo longo de detenção para que as reações ocorram. Como consequência, as lagoas anaeróbias requerem grandes áreas para suas construções.

Para uma boa operação da planta, é de extrema importância monitorar alguns parâmetros fundamentais, como: temperatura e pH, pois a atividade biológica está relacionada diretamente com estes fatores.

A principal característica de uma lagoa facultativa é a presença de três zonas, denominadas:

  • zona anaeróbia: matéria orgânica em suspensão (DBO particulada) tende a sedimentar, constituindo um lodo no fundo da lagoa. Este lodo sofre processo de decomposição, sendo convertido lentamente em gás carbônico, água, metano e outros. 
  • zona aeróbia: A matéria orgânica dissolvida (DBO solúvel) não se sedimenta, permanecendo dispersa no meio liquido, próxima a superfície. Nesta zona, a matéria orgânica é oxidada pro meio da respiração aeróbia, e portanto, a necessidade de oxigênio, o qual é suprido ao meio pela fotossíntese realizadas pelas algas
  • zona facultativa: há presença de bactérias anaeróbias e aeróbias responsáveis pela estabilização da matéria orgânica. Na ausência de oxigênio livre, são utilizados outros receptores de elétrons, como nitratos (condições anóxicas) e sulfatos (condições anaeróbias). Nesta zona pode ocorrer presença ou ausência de oxigênio.

Portanto, percebe-se que há a ocorrência de uma série de mecanismos dentro da lagoa facultativa, como mostra a Figura 1 a seguir.

Figura 1Esquema simplificado do funcionamento de uma lagoa facultativa.

Fonte: Von Sperling, Volume 3.

Lagoa aeróbia

Uma característica da lagoa aerada é a utilização de equipamentos de aeração, normalmente, aeradores superficiais, para “fornecer” oxigênio para o meio liquido. Os aeradores superficiais criam turbulências necessárias para o oxigênio contido na atmosfera adentre ao meio liquido, garantindo, assim, oxigenação para os microrganismos que estão na lagoa.

Além disso, os aeradores superficiais são responsáveis pela mistura entre os microrganismos (DBO) e os sólidos em suspensão (biomassa), há em decorrências, uma maior concentração de bactérias no meio liquido. Com isto, a eficiência da lagoa aeróbia aumenta, permitindo também uma redução em seu volume.

a lagoa aerada atua de forma semelhante ao processo de lodos ativados, com exceção para o sistema de recirculação de lodo (sólidos), que é inexistente em lagoas aeróbias. Devido a inexistência da recirculação, a concentração de sólidos dentro das lagoa é menor (20 a 30 vezes) do que em sistemas de lodos ativados.

Figura 2 – Esquema simplificado do funcionamento de uma lagoa aerada seguida por uma lagoa de decantação.

No entanto, apesar da boa eficiência na remoção de matéria orgânica, as lagoas aeradas apresentam um efluente com qualidade insatisfatória para lançamento em corpos hídricos. Isto porque, a biomassa permanece em suspensão por todo volume da lagoa, vindo, portanto, a sair no efluente tratado.

Portanto, é recomendável que seja instalada uma unidade de decantação (podendo ser uma lagoa de decantação) a jusante no qual os sólidos em suspensão possam se sedimentar.

Lagoa de maturação

Por fim, o ultimo sistema de lagoas a ser apresentado é a lagoa de maturação, responsável, principalmente, pela remoção de bactérias, coliformes, vírus e ovos de helmintos. Este tipo de lagoa possibilita um polimento no efluente de qualquer dos sistemas de lagoas de estabilização descritos anteriormente, ou de qualquer sistema de tratamento de esgotos.

O principal objetivo das lagoas de maturação é a remoção de patógenos, e não da DBO. As lagoas de maturação são alternativas bastante econômicas à desinfecção do efluente.

Diversos fatores contribuem para a remoção dos organismos patogênicos:

  • Temperatura;
  • Insolação;
  • pH;
  • organismos predadores;
  • competição;
  • compostos tóxicos; e
  • Sedimentação.

Alguns destes mecanismos se tornam mais efetivos com menores profundidades da lagoa, implicando em lagoas rasas, comparadas aos demais tipos de lagoas.

Como consequência da baixa profundidade, há a elevação do pH (atividade fotossintética) e da concentração de oxigênio dissolvido, devido a alta penetração da radiação solar.

Figura 3 – Esquema simplificado do funcionamento de uma lagoa de maturação pós lagoa facultativa.

Fonte: Gonçalves; s.d.

As lagoas de maturação removem, usualmente, 99,99% de coliformes e 100,0% de ovos de helmintos e cistos de protozoários.

VANTAGENS DA UTILIZAÇÃO DE LAGOAS

A utilização dos diversas modalidades de lagoa implicam em algumas vantagens, que são:

  • elevada eficiência de remoção de DBO e coliformes;  
  • custos reduzidos de operação e manutenção; e 
  • simplicidade de operação.
DESVANTAGENS DA UTILIZAÇÃO DE LAGOAS

Já as principais desvantagens são: 

  • requerem grandes áreas; 
  • atividade biológica afetada pela temperatura; e 
  • geração de maus odores (processos anaeróbios).

Para saber mais sobre o assunto e de como podemos ajudá-lo, entre em contato conosco: www.h2oengenharia.com.br

Até o próximo artigo!

Luiz Fernando Iervolino – H2O Engenharia

REUSO DE ÁGUA: FUNDAMENTOS E FINALIDADES

O tema relacionado ao reuso da água vem sendo debatido e discutido mundialmente. E não é por menos, visto que, a cada ano, a disponibilidade de água vem diminuindo em diversas partes do planeta, em função da contaminação dos recursos hídricos (principalmente em países em desenvolvimento que carecem de políticas públicas) e do aumento cada vez maior da demanda por água.
Para amenizar o problema da falta de água, diversas cidades ao redor do mundo passaram a adotar em suas ETEs sistemas que permitem tratar e reusar o efluente (industrial e/ou doméstico) nas próprias áreas urbanas para complementar o abastecimento público. Aliado a isto, diversas indústrias começaram a adotar sistemas que visam o tratamento do efluente e reusá-lo em sua própria linha de produção ou área recreativas.
O reuso de água tem emergido como uma solução promissora para enfrentar os desafios crescentes de escassez de água e demanda por recursos hídricos em todo o mundo. Esta prática envolve o tratamento e o aproveitamento de águas residuais previamente utilizadas para diversas finalidades, como irrigação agrícola, recarga de aquíferos, uso industrial e até mesmo consumo humano indireto. Combinado com tecnologias avançadas de tratamento, o reuso de água não apenas conserva um recurso vital, mas também ajuda a mitigar a poluição e a reduzir a pressão sobre os suprimentos de água doce.
É através da FINALIDADE da água de reuso que se ESCOLHE o tipo de sistema de tratamento (do mais “simples” ao mais “complexo”). Nos casos em que a água de reuso será utilizada para consumo humano, será necessário uma planta mais sofisticada, com uso de osmose reversa, troca iônica, Processos Oxidativos Avançados (POAs), entre outros. Já em situações na qual a água será utilizada para fins menos nobres, uma planta menos sofisticada poderá ser suficiente.
Por abranger diversas finalidades (lavagem de pisos, áreas recreativas, processos produtivos, banheiros, lavagem de carros, etc.) e estar em crescimento no Brasil, os orgãos públicos ainda estão analisando quais parâmetros devem ser monitorados para atestar a qualidade da água de reuso.
Entretanto, no Estado de São Paulo e em alguns outros Estados brasileiros, já há legislações e resoluções que definem os parâmetros da água de reuso em função da finalidade desejada.
Benefícios do reuso de água:
A partir da reutilização de água em uma cidade, condomínio e/ou em uma indústria, é possível obter vantagens socioeconômicas, uma vez que os benefícios são os seguintes:
  • Conservação dos Recursos Hídricos: O reuso reduz a dependência de fontes de água doce, preservando esses recursos para usos prioritários e essenciais.
  • Segurança Hídrica: Em regiões propensas a secas e escassez de água, o reuso proporciona uma fonte alternativa e confiável de água.
  • Redução da Poluição: Ao tratar e reutilizar águas residuais, o reuso ajuda a prevenir a contaminação de corpos d’água naturais, protegendo ecossistemas aquáticos sensíveis.
  • Economia de Custos: O reuso de água pode ser uma opção economicamente viável em comparação com a captação de novas fontes de água, especialmente em áreas onde a infraestrutura de tratamento já está estabelecida.
  • Sustentabilidade: Ao fechar o ciclo da água, o reuso promove uma abordagem mais sustentável para o gerenciamento dos recursos hídricos, alinhada com os princípios de desenvolvimento sustentável.

Tecnologias de tratamento avançadas:

Atualmente, existem diversas possibilidades e alternativas de “transformar” um efluente bruto (doméstico e/ou industrial) em água de reuso. Porém, conforme dito anteriormente, é necessário saber exatamente qual é a finalidade da água de reuso para selecionar o melhor método de tratamento.
A seguir, são apresentadas algumas tecnologias adotadas para tal processo, sendo que na maioria empregam sistemas oxidativos.
  • Osmose Reversa: esta tecnologia utiliza membranas semipermeáveis para remover contaminantes e íons indesejados da água, produzindo água de alta qualidade adequada para uma variedade de aplicações.
  • Processos de Oxidação Avançada (POA): os POAs combinam agentes oxidantes, como ozônio ou peróxido de hidrogênio, com catalisadores para degradar eficientemente compostos orgânicos persistentes na água.
  • Filtração por Membrana: além da osmose reversa, outros processos de filtração por membrana, como ultrafiltração e microfiltração, são amplamente utilizados para remover partículas, bactérias e vírus da água.
  • Eletrocoagulação: este processo utiliza corrente elétrica para coagular e remover partículas suspensas, metais pesados e outras impurezas da água.
  • Desinfecção Avançada: além do cloro, métodos avançados de desinfecção, como radiação ultravioleta e ozônio, são empregados para garantir a eliminação eficaz de microrganismos patogênicos.

Legislações e Resoluções:

Nos últimos anos, tem avançado no Brasil o debate e a implementação de resoluções e normas para a adoção, monitoramento e “incentivo” a geração de água de reuso. Essas resoluções e normas têm como objetivo promover o uso sustentável dos recursos hídricos, garantindo a qualidade da água reutilizada e estabelecendo diretrizes para a implementação de sistemas de reuso. O cumprimento dessas regulamentações é essencial para assegurar a eficiência e a segurança dos sistemas de reuso de água, contribuindo para a conservação dos recursos naturais e a adaptação às mudanças climáticas.

Uma das Resoluções que chama atenção e que é destacada no presente artigo é a Resolução Conjunta SES/SIMA nº: 01/2020 do Estado de São Paulo, que estabelece os critérios e padrões de qualidade da água para reuso não potável, proveniente de Estações de Tratamento de Esgoto Sanitário – ETEs.

Esta Resolução contempla ETEs operadas por empresas públicas ou privadas, que tratam esgotos sanitários, assim considerados os de origem predominantemente doméstica,  excluindo ETEs implantadas por estabelecimentos comerciais e industriais.

No Capítulo I desta Resolução, são apresentadas as definições e usos da água de reuso, sendo adotadas as seguintes definições:

I – Água de reuso para fins urbanos: efluente tratado proveniente de ETEs cujos processos de tratamento viabilizem o atendimento aos padrões de qualidade definidos nesta resolução para aproveitamento em determinadas atividades relacionadas ao meio urbano que não requerem necessariamente o uso de água potável; 

II – Produtor de água de reuso: pessoa jurídica, de direito público ou privado, que produz água de reuso; 

III – Distribuidor de água de reuso: pessoa jurídica, de direito público ou privado, que distribui água de reuso para utilização própria ou de terceiros; 

IV – Usuário de água de reuso: pessoa jurídica, de direito público ou privado, que utiliza água de reuso proveniente

A água de reuso para fins urbanos, para efeito da Resolução, abrange exclusivamente as seguintes modalidades:

I – irrigação paisagística; 

II – lavagem de logradouros e outros espaços públicos e privados; 

III – construção civil; 

IV – desobstrução de galerias de água pluvial e rede de esgotos; 

V – lavagem de veículos; 

VI – combate a incêndio.

Com relação a irrigação paisagística, a Resolução nº: 01/2020 define este tipo de reuso se limita aos parques, jardins, campos de esporte e de lazer urbanos ou áreas verdes de condomínios, cemitérios ou taludes de rodovias, com a qual o público tenha ou possa vir a ter contato direto. Não se inclui, portanto, a irrigação para usos agrícolas, pastoreio e florestais.

Ademais, a Resolução nº: 01/20 Considera que os veículos para fins de lavagem com água de reuso, são: trens, ônibus, aviões, caminhões de lixo, de coleta seletiva e de construção civil, e embarcações. Já a água de reuso para combate a incêndio deve estar acondicionada em reservatório que disponha de instalações hidráulicas exclusivas para este fim.

Por fim, a Resolução nº: 01/20 considera as seguintes categorias de água de reuso: 

I. Classe A – Reuso Irrestrito Não Potável – atende aos padrões de qualidade para sua categoria, e destina-se às modalidades previstas nos incisos I a VI descritos anteriormente; e

II. Classe B – Reuso Restrito Não Potável – atende aos padrões de qualidade para sua categoria, e destina-se exclusivamente às modalidades revistas nos incisos I a V descritos anteriormente, exceto lavagem interna de veículos.

Padrão de Qualidade:

Com relação ao Padrão de Qualidade da água de reuso para os diferentes fins no Estado de São Paulo, além dos padrões de lançamento de efluentes estabelecidos nas Legislações ambientais específicas (Federal = CONAMA 430/11 e Estadual = artigo de 18 ou 19 da CETESB, no caso de São Paulo), as águas de reuso devem atender os padrões de qualidade definidos pela Resolução nº: 01/20, que define os seguintes padrões:

Tabela 1 – Padrões de qualidade de água de reuso definida pela Resolução SES/SIMA nº: 01/2020.

NOTAS:

  1. O Critério de Turbidez deve ser respeitado antes da desinfecção. Esse critério deve ser baseado na média das medições horárias da Turbidez dentro de um período de 24 horas. Nenhuma medição horária deve exceder 5 UNT. 
  2. Esse critério aplica-se somente quando o cloro é usado como desinfetante primário, e deve ser atendido após um tempo de contato mínimo de 30 minutos (ou tempo equivalente para atender os critérios microbiológicos). Outros tratamentos que não utilizem o cloro serão aceitos para desinfecção, desde que tenham eficiência semelhante. Para uso em irrigação paisagística, o valor de CRT não deverá ultrapassar 5 mg/L (≤ 5 mg/L).
  3. Parâmetros exigidos exclusivamente para uso em irrigação paisagística.
  4. A fim de minimizar problemas de permeabilidade dos solos, o critério da RAS:

Conforme dito anteriormente e reforçado novamente, o cumprimento dessas regulamentações é essencial para assegurar a eficiência e a segurança dos sistemas de reuso de água, contribuindo para a conservação dos recursos naturais e a adaptação às mudanças climáticas.

Conclusão:

O reuso de água, aliado a tecnologias avançadas de tratamento e legislações fortes, representam uma abordagem inovadora e sustentável para enfrentar os desafios globais e locais relacionados à disponibilidade de água. Ao adotar essas práticas, comunidades, empresas e governos podem não apenas garantir a segurança hídrica a longo prazo, mas também promover o uso responsável e eficiente dos recursos naturais. Investimentos contínuos em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias de tratamento são essenciais para impulsionar ainda mais a adoção generalizada do reuso de água e garantir um futuro sustentável para todos.